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sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A morte dos federais e a “zona de conforto”


Por Marcelo Ramos*

Semana passada, pensei escrever sobre uma “zona de conforto” que existe na política, onde transitam os que não correm riscos, os que não se expõem, os que marcam posição como desencargo de consciência e não com verdadeiro e obcecado desejo de mudança.

A morte dos agentes da Polícia Federal, entre eles o agente Mauro Lobo, um dos mais preparados, corajosos e dedicados policiais federais que o Amazonas já viu – nas palavras do meu irmão que, como delegado, foi seu chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da PF -, fez-me refletir sobre a “zona de conforto” que existe na vida de cada um de nós.

São milhares de pessoas que escolheram permitir que o mundo permaneça como está. Tomado pelo crime, pela corrupção, pela violência. Que escolheram cuidar do seu “quadrado” e permitir que o mal perdure, desde que não chegue a sua porta ou a porta de sua família.

Pessoas de bem, mas pessoas omissas. Que com sua omissão permitem que o mal se perpetue, permitem que os que transformam sua honestidade e sua indignação em ação consciente e transformadora padeçam como bobos isolados ou morram como heróis, deixando as suas famílias o sofrimento e a dor.

Não são os honestos omissos, se é que existe honestidade verdadeira sem ação transformadora, que construirão um novo mundo de paz e solidariedade. Não são eles que acenderão as luzes do atual mundo das trevas. Essas luzes serão acessas pelos combatentes.

É muito cômodo fazer-se honesto e indignado com as maldades do mundo de hoje, seja na política, na polícia, no judiciário ou onde quer que for, e agir sem incomodar, sem enfrentar verdadeiramente o que se combate, sem se expor ao contra-ataque do inimigo. É muito cômodo esperar que outros ajam, que outros se exponham, que outros morram. É muito cômodo ver o lutador encurralado e orgulhar-se por ele ter a coragem que você não tem, ou até criticá-lo diante da primeira ofensiva do inimigo.

A decisão é sempre difícil. Pensamos nos nossos projetos pessoais, nos nossos filhos, nas nossas famílias. Mas e agora? Quem pensa na esposa, nos filhos e na família do agente Lobo? Ele morreu combatendo o tráfico. Morreu por nós, por nossos filhos, pela nossa família, pelos nossos valores. E amanhã, após choramos ou lamentarmos um pouco, voltaremos a nossa rotina na “zona de conforto”.

Pior, alguns amanhã voltarão a fumar “socialmente” a sua maconha, a usar “socialmente” a sua cocaína, a conviver “socialmente” com pessoas sabidamente relacionadas ao tráfico e, ainda lamentando a morte do Lobo, comprarão suas porções e entregarão mais uma arma nas mãos dos que mataram.

Na “zona de conforto” não há incômodo. A consciência vive tranqüila, a família não padece, os colegas não se afastam, os amigos proliferam, os riscos são mínimos. E outros morrem ou são perseguidos por nós.

De nada vale a ética covarde, a honestidade omissa, a indignação passiva.

Não somos culpados pela morte dos agentes da PF, mas o que faremos das nossas vidas para sermos dignos do sacrifício desses heróis que se foram?

Que Deus possa confortar a família dos agentes e dar forças aos que seguem na PF para não vacilar no combate ao narcotráfico. Temos orgulhos de todos vocês, dos que se foram e dos permanecem na luta diária.

 Marcelo Ramos é vereador  de Manaus e deputado estadual eleito